A ALEGRIA NA VIDA CONSAGRADA
« Queria dizer-vos uma palavra, e a palavra é
alegria.
Onde quer que haja consagrados, aí está a alegria! ».
Papa Francisco
Temos mil e um
motivos para viver na alegria. A sua
raiz alimenta-se da escuta crente e perseverante da Palavra de Deus.
No Antigo
Testamento, é nos Salmos e no profeta Isaías que estes termos aparecem mais
vezes. Com uma variação linguística criativa e original, surge com frequência o
convite à alegria e proclama-se a alegria da proximidade de Deus, alegria por tudo o que Ele criou e fez.
Nos Salmos encontramos, centenas de vezes, as expressões mais eficazes para
indicar, juntamente com a alegria,
quer o fruto da presença benevolente de Deus e os ecos jubilosos que esta
provoca, quer a afirmação da grande promessa que ilumina o horizonte futuro do
povo.
“Só
o justo conhece a verdadeira alegria… que
deve ter como fundamento o temor de Deus” Eclo 1,12
« Esta
é a beleza da consagração: é a alegria…».
A alegria de levar a todos a
consolação de Deus. São palavras do papa Francisco no encontro com os
seminaristas, os noviços e noviças. « Não há santidade na tristeza », continua
o Santo Padre, « não andeis tristes como os que não têm esperança », escrevia
São Paulo (1Ts 4, 13).
No mundo há,
muitas vezes, um déficit de alegria. Não somos chamados a realizar gestos
épicos nem a proclamar palavras altissonantes, mas a testemunhar a alegria que
brota da certeza de sentir-se amado, da confiança de ser salvo.
Ao chamar-vos, Deus diz-vos: “És
importante para mim, Eu amo-te; conto contigo”. Jesus diz isto a cada um de
nós! Daqui nasce a alegria! A alegria do momento no qual Jesus olhou
para mim. Compreender e sentir isto é o segredo da nossa alegria. Sentir-se amado por Deus, sentir que, para Ele, nós não
somos números, mas pessoas; e sentir que é Ele que nos chama »
O papa
Francisco leva-nos a olhar para o fundamento espiritual da nossa humanidade,
para vermos o que nos é dado gratuitamente por livre soberania divina e livre
resposta humana:
«Então Jesus olhou para ele com
simpatia e respondeu: “Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens,
dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me” » (Mc 10, 21).
Cristo é o
selo na fronte, é o selo no coração: na fronte, porque o professamos sempre; no
coração, porque o amamos sempre; é o selo no braço, porque atuamos sempre » A
vida consagrada, com efeito, é um constante chamamento a seguir Cristo e a
imitá-lo. « Toda a vida de Jesus, a sua forma de tratar os pobres, os seus
gestos, a sua coerência, a sua generosidade simples e quotidiana e, finalmente,
a sua total entrega, tudo é precioso e fala à nossa vida pessoal
É comum
encontrar em vários textos bíblicos, tanto
no Antigo como no Novo Testamento, um conjunto
de vocábulos intensos: alegrai-vos, exultai, transbordai;
e também consolações, delícia, abundância, prosperidade,
carícias, etc. A relação de fidelidade e de amor tinha falhado, caíra-se
na tristeza e na esterilidade; agora, o poder e a santidade de Deus tornavam a
dar sentido e plenitude de vida e de felicidade. Estas exprimem-se em termos
que têm a sua raiz nos afetos de todo o ser humano, e que provocam sensações
únicas de ternura e segurança.
Delicado e verdadeiro perfil de
um Deus que vibra com entranhas maternas e com intensas emoções contagiantes;
uma alegria vinda do coração (cf. Is 66, 14)
«A
tristeza e o medo devem dar lugar à alegria: “Alegrai-vos... exultai... transbordai
de alegria” – diz o profeta (Is 66, 10). É um grande convite à alegria. […]
Cada cristão, mas sobretudo nós, somos chamados a levar esta mensagem de
esperança, que dá serenidade e alegria: a consolação de Deus, a sua ternura
para com todos. Mas só o poderemos fazer, se experimentarmos, nós primeiro, a
alegria de ser consolados por Ele, de ser amados por Ele. […] Existem pessoas
consagradas que têm medo da consolação de Deus e se amofinam, porque têm medo
dessa ternura de Deus. Mas não tenhais medo. Não tenhais medo. O nosso Deus é o
Senhor da consolação, o Senhor da ternura. O Senhor é pai e Ele disse que
procederá conosco como faz uma mãe com o seu filho – com ternura. Não tenhais
medo da consolação do Senhor »
O
Papa convida-nos a parar algum tempo, como peregrinação interior, diante do
horizonte da primeira hora, onde os espaços têm o calor da relação amiga, a
inteligência é levada a abrir-se ao mistério, a decisão estabelece que é bom
pôr-se no seguimento daquele Mestre que só tem « palavras de vida eterna » (cf.
Jo 6, 68). Convida-nos a fazer de toda a « existência uma peregrinação
de transformação no amor.
O papa
Francisco chama-nos a deter o nosso espírito no fotograma da partida: «A
alegria do momento no qual Jesus olhou para mim» [15];
a evocar significados e exigências subentendidos na nossa vocação: «É a
resposta a um chamamento, a um chamamento de amor ». Estar com Cristo requer
que partilhemos com Ele a vida, opções, obediência de fé, bem-aventurança dos
pobres, radicalidade do amor.
O Papa
pede-nos para relermos a nossa história pessoal e a verificarmos no olhar de amor
de Deus, porque, se a vocação é sempre iniciativa sua, cabe-nos a livre adesão
à economia divino-humana, como relação de vida no ágape, caminho de
discipulado, « luz no caminho da Igreja ». Na vida no Espírito não há tempos
acabados; ela abre-se constantemente ao mistério quando faz discernimento para
conhecer o Senhor e captar a realidade a partir dele. Ao chamar-nos, Deus
faz-nos entrar no seu repouso e pede-nos que repousemos nele, como contínuo
processo de conhecimento de amor. Ecoa em nós a Palavra « andas inquieta e
preocupada com muitas coisas » (Lc 10, 41). Na via amoris,
progride-se renascendo: a velha criatura renasce para uma nova forma. « Por
isso, se alguém está em Cristo, é uma nova criatura » (2Cor 5, 17).
A vida consagrada é chamada a encarnar
a Boa-Nova, no seguimento de Cristo, o Crucificado ressuscitado; a fazer
próprio o « modo de existir e de agir de Jesus como Verbo encarnado em relação
ao Pai e aos irmãos » . Concretamente, é assumir o seu estilo de vida, adotar
as suas atitudes interiores, deixar-se invadir pelo seu espírito, assimilar a
sua lógica surpreendente e a sua escala de valores, partilhar os seus risos e
as suas esperanças: « Guiados pela certeza humilde e feliz de quem foi encontrado,
alcançado e transformado pela Verdade que é Cristo, e não pode deixar de
anunciá-la »
«
Não se pode perseverar numa evangelização cheia de ardor, se não se estiver
convencido, por experiência própria, de que não é a mesma coisa ter conhecido
Jesus ou não o conhecer; não é a mesma coisa caminhar com Ele ou caminhar
tateando; não é a mesma coisa poder escutá-lo ou ignorar a sua Palavra; não é a
mesma coisa poder contemplá-lo, adorá-lo, descansar nEle, ou não o poder fazer.
Não é a mesma coisa procurar construir o mundo com o seu Evangelho, em vez de o
fazer unicamente com a própria razão. Sabemos bem que a vida com Jesus se torna
muito mais plena, e, com Ele, é mais fácil encontrar sentido para cada coisa ».
O papa Francisco exorta-nos à inquietação
da procura, como aconteceu com Agostinho de Hipona: uma « inquietação do
coração que o leva ao encontro pessoal com Cristo; que o leva a compreender que
aquele Deus que ele procurava longe de si é o Deus próximo de cada ser humano,
o Deus próximo do nosso coração, mais íntimo a nós do que nós mesmos ». É uma
procura que continua: « Agostinho não se detém, não se acomoda, não se fecha em
si mesmo, como aquele que já chegou à meta, mas continua o caminho. A inquietação
da busca da verdade, da busca de Deus, torna-se inquietação de o conhecer
cada vez mais e de sair de si mesmo para o dar a conhecer aos outros. É
precisamente a inquietação do amor »
Quem
encontrou o Senhor e o segue com fidelidade é um mensageiro da alegria do
Espírito.
Vivemos uma crise de fidelidade,
entendida como adesão consciente a um chamamento que é um percurso, um caminho,
desde o seu início misterioso até ao seu misterioso fim.
Talvez se esteja também numa
crise de humanização. Estamos a viver os limites de uma coerência total,
feridos pela incapacidade de realizar, no tempo, a nossa vida como vocação
unitária e caminho fiel.
Um caminho quotidiano, pessoal e
fraterno, marcado pelo descontentamento, pela amargura que nos fecha na
tristeza, como que numa permanente saudade, por estradas inexploradas e sonhos
por realizar, torna-se um caminho solitário.
« Hoje, as pessoas
precisam certamente de palavras, mas sobretudo têm necessidade de quem
testemunhe a misericórdia, a ternura do Senhor que aquece o coração, desperta a
esperança, atrai para o bem. A alegria de levar a consolação de Deus! ». Levar o abraço de Deus
O papa Francisco confia aos
consagrados e consagradas essa missão: encontrar o Senhor que nos consola como
uma mãe, e consola o povo de Deus. Da alegria do encontro com o Senhor e do seu
chamamento brota o serviço na Igreja, a missão: levar aos homens e mulheres do
nosso tempo a consolação de Deus; testemunhar a sua misericórdia. A ternura faz-nos bem.
Num mundo que vive de
desconfiança, de desânimo e depressão, numa cultura em que os homens e mulheres
se deixam levar por fragilidades e fraquezas, por individualismos e interesses
pessoais, é-nos pedido que introduzamos a confiança na possibilidade de uma
felicidade verdadeira, de uma esperança possível, que não se apoie unicamente
nos talentos, nas qualidades, no saber, mas em Deus. Todos podem encontrá-lo;
basta procurá-lo de coração sincero.
Os homens e mulheres do nosso
tempo esperam palavras de consolação, proximidade, perdão, alegria verdadeira.
Somos chamados a levar a todos o abraço de Deus, que se inclina sobre nós com
ternura de mãe: consagrados, sinal de humanidade plena, facilitadores e não
controladores da graça marcados pelo sinal da consolação.
A Igreja deve atrair.
Despertai o mundo! Sede testemunhas de um modo diferente de fazer, de agir, de
viver! É possível viver diversamente neste mundo. […] Eu espero de vós um tal
testemunho
Queria dizer-vos uma palavra, e a
palavra é alegria. Onde estão os consagrados, os seminaristas, as
religiosas e os religiosos, os jovens, há sempre alegria, há sempre júbilo! É a
alegria do vigor, é a alegria de seguir Jesus; a alegria que nos dá o Espírito
Santo, não a alegria do mundo. Há alegria! Mas, onde nasce a alegria?
Junto a Maria, a alegria
expande-se: o Filho que traz no seio é o Deus da alegria, do júbilo que
contagia, que envolve. Maria abre de par em par as portas do coração e corre
para Isabel.
« Feliz de realizar o seu desejo, delicada no seu
dever, solícita na sua alegria, apressou-se a dirigir-se para a montanha. Onde,
se não para os cimos, devia solicitamente tender aquela que já estava cheia de
Deus?
A verdadeira
alegria não vem das coisas, do ter, não! Nasce do encontro, da relação com os
demais, nasce do sentir-se aceite, amado, e de aceitar, de compreender e de
amar e isto não pelo interesse de um momento, mas porque o outro, a outra, é
uma pessoa.
A alegria nasce da gratuidade de
um encontro. É ouvir-se dizer “Tu és importante para mim” Jesus diz isto
continuamente para mim. Eu amo-te. Conto contigo.
Disto nasce a alegria! A alegria
do momento em que Jesus olhou pra mim.
DOM FILOMENO NASCIMENTO VIEIRA DIAS, NOSSO ADMINISTRADOR APOSTÓLICO
ENCONTRO MENSAL DE MISSIONÁRIOS A NIVEL DE DIOCESANO
IRMÃS PREDILECTA DE JESUS - FILHAS DA EUCARISTIA -
EM REFLECTINDO SOBRE OS CONSELHOS EVANGÉLICOS
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