PENITÊNCIAS MODERNAS
SEMPRE É TEMPO PARA MUDAR...
Quaresma
é tempo de penitência, renovação, restauração. Proponho algumas penitências
próprias para quem vive e sobrevive na cultura moderna. São penitências
libertadoras, saudáveis humanizadoras, necessárias.
1. Libertação da
dependência dos aparelhos eletrônicos.
Somos reféns e escravos do celular, da internet, da televisão, etc. Estes meios
de comunicação virtuais são magníficos e realizaram uma revolução sem igual.
Mas todos nós constatamos que o mau uso dos mesmos oferece muita imoralidade,
exploração, escravidão, dependência. Quem renuncia se torna livre. Renunciemos
ao que nos escraviza. Quaresma é libertação.
2. Cortesia no trânsito. A
tecnologia virou ídolo. Resolveu grandes problemas e trouxe stress, depressão,
doenças modernas e influenciou a cultura da morte. Penitência aqui significa
desfazer-se de veículos desnecessários, usar os meios públicos de transporte,
caminhar mais. Todavia a cortesia no trânsito é uma possibilidade de humanizar,
suavizar e solucionar problemas crônicos que nos adoecem, enlouquecem,
empobrecem socialmente e psicologicamente.
3. Saber silenciar.
O barulho, a agitação, a dissipação nos obrigam a viver uma vida fragmentada,
agressiva, doentia. Até o sono, a afetividade, a sexualidade são
significativamente prejudicadas. Saber parar, saber descansar, saber meditar é
um remédio, uma solução prática, uma atitude sábia em favor da saúde, da paz,
da boa convivência e da alegria de viver.
4. Equilibrar trabalho e
família. Somos portadores de doenças típicas do
mundo do trabalho. É o que se chama de “síndrome da fadiga”, ou seja,
esgotamento, apatia, vazio, desânimo, frustração. Sei que esta penitência é
muito exigente.Sem este equilíbrio nós podemos ter sucesso no trabalho e
fracasso na família. O lazer é um dever. Sem mudança de hábitos e de
mentalidade, seremos arrastados pelo consumismo que nos consome e desestrutura
a família. Dá a impressão que enlouquecemos. Que o Espirito Santo nos ajude a
discernir e decidir. Demos primazia à família.
5. Mudar o hábito
alimentar e fazer exercícios. Convivemos com a fome,
a obesidade e o desperdício. Sem mudar hábitos alimentares seremos candidatos à
internação hospitalar e celebrar com a cultura da morte. A tentação do consumismo e da gula, por outro
lado, provocou a “ditadura da magreza” que é outro problema grave. Quão sábio é
Jesus quando nos ensina o jejum.
6. Cuidar da mãe terra e
da irmã água. O homem inteligente passou a ser
demente pela destruição do Meio Ambiente. Secas, queimadas, desmatamentos fazem
a gente morrer de sede e morrer afogado nas fúrias do mar. A vida virou
cálculo, lucro, dinheiro. Resultado disso tudo é que somos uma geração emocionalmente
desequilibrada e culturalmente depredadora. Como escreve um grande teólogo: “o
homem virou satã de si mesmo e da vida”. Temos mil maneiras de salvar a mãe
terra e a irmã água e todas as criaturas. Façamos da terra nossa casa comum e o
jardim desejado pelo Criador.
7. A conversão pastoral.
Eis uma penitência urgente e necessária. Não podemos permanecer na mesmice e na
acomodação pastoral. O Papa Francisco nos convida à conversão pastoral através
da Igreja em saída. São muitas as saídas. Primeira: sair de si e ir ao povo, às
periferias. Segunda: sair de casa e visitar as famílias. Terceira: sair da
sacristia e abraçar a realidade sofrida do povo. Quarta: sair da diocese, da
paróquia para outras regiões como por exemplo a Amazônia. Quinta: sair para
outros continentes, é a missão além fronteiras. Sexta: sair da cultura pessoal
para a inculturação em outras realidades. Sétima: sair da zona de conforto,
para a doação de si, o martírio e a própria morte.
Dom
Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina/ Paraná/ Brasil
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